a 1ª impressão

Ontem utilizei o vale que nos deram no Oeiras by Night e recebi uma massagem.
Foi feita por um invisual e no decorrer daquela conversa de ocasião ele diz-me que perdeu a visão aos 8 anos de idade, que tem 5% de visão o que lhe permite ver vultos e desviar-se na rua das pessoas ou obstáculos; e isto, reforça ele, "porque ainda tenho os reflexos de quando conseguia ver".
Aquela frase ficou a martelar-me na cabeça..

Imaginei-o com 8 anos a ter de lidar com a perda da visão. Considerei a inevitável pergunta do que seria mais difícil de lidar: o que se conhece e perdemos mas que afinal dão-te as ferramentas para te ajudarem no processo de adaptação ou, o que não se conhece, logo não se chora, não se sente saudades... e nunca teremos essa memória. Prefiro sentir saudades do céu azul e das cores quentes do pôr-do-sol...ou não entender o conceito da cor?

Imaginei-o a segurar um brinquedo... o carro vermelho que ganhou no Natal, a sentir as formas, a passar os seus dedinhos pelas rodas e a atirá-lo, no chão, para longe...do alcance da sua visão.
Ou os livros que, com 8 anos, já ele tinha começado a descobrir; a banda-desenhada, os heróis com super poderes, os desenhos animados na televisão, a colecção de cromos, os berlindes, e todos os brinquedos novos que são lançados estratégica e sazonalmente e que contagiam todas as crianças.

Ou o rosto da sua Mãe...

Imaginei como teria sido a sua infância.
E ainda hoje continuo a pensar nele. Um homem realizado, com estudos e profissão, com família e amigos, que faz desporto 2x por semana, que vai à praia e anda de comboio para se encontrar com outros amigos invisuais. Que massajou e sentiu os meus músculos; e as minhas lesões.

Por brincadeira, quase que ele adivinhou a minha idade. Disse-me que já eram anos de experiência; de ouvir a voz das pessoas, sentir a pele.. são capacidades que se ganham quando se perde um sentido, disse-lhe eu.
Disse-lhe também - e a frase ouvi-a de um cego que recebeu uma casa nova no Reconstrução Total - que uma das capacidades que um cego adquire é de não julgar as pessoas pela aparência.

E ele confirmou-me "sim, a aparência para mim não significa nada".