Cerejinha, creio que nunca te cheguei a contar que no inicio da separação com o M, quando ainda pensava que teríamos outro acordo financeiro, andei a ver casas para alugar e viver com a minha menina, onde a renda mensal não fosse superior ao que pagava da prestação da casa, que comprámos juntos …
Dos vários anúncios que vi, e das várias lágrimas que chorei por ter ficado numa situação com uma qualidade de vida inferior, de ter de escolher outra escola para a minha menina e do conforto que a nossa casa tem… combinei com uma agência imobiliária e fui visitar um T1 na zona da Parede já a caminho de São Domingos de Rana. Foi a única casa que vi! E era num prédio de 3 andares, em que à entrada se sentia o cheiro da humidade e mofo, o chão da sala e do quarto era forrado a corticite, e a sala, a assoalhada maior, não tinha mais de 9 m2.
Na altura aceitei. Não tinha outro remédio! Não era vergonha nenhuma, não roubava, não me prostituía, e sabia que faria tudo para fazer a minha menina feliz e quentinha.
Mas no fundo… sofri muito!! E a verdade, por triste que seja, é que o M permitiria que a filha fosse viver numa casa naquelas condições. Sem aquecimento, onde teríamos de partilhar o quarto…
Entretanto chegámos a outro acordo e felizmente fiquei com a nossa, a minha casa!
Talvez agora, que te contei isto, não percebas porque vou mudar de assunto mas deixa-me te contar o que aconteceu este domingo:
Saímos de casa a custo, por causa do frio, mas às 11h deixei a D numa festinha de aniversário, fui votar e de seguida ao supermercado fazer as compras para a semana.
Enquanto andava lá nos corredores reparo numa senhora idosa acompanhada da neta, não mais velha que os seus 12 anos, a dizer-lhe os preços dos produtos, a relembrar o que fazia falta ou que lhe fazia bem, tudo com um carinho na voz que me deixou enternecida…
Ao sair, encontrei-as no elevador e enquanto me dirigia para a garagem, elas escolheram o andar superior. Perguntei então se moravam perto e se queriam boleia, que estava muito frio e que a menina estava carregada com as compras (a avó apoiava-se numa bengala). Apesar de não ficar no meu caminho, levei-as até a casa perto do colégio dos Maristas; comentaram comigo que teriam de ir a pé ou que chamar um táxi…
Durante o caminho, a neta foi me indicando o trajecto, fruto de algumas boleias de uma tia que a trazia da escola; Apontaram-me o prédio e na chegada, a senhora perguntou-me o nome, apresentou-se e à neta, e agradeceu-me, dizendo que me queriam dar o contacto para eu telefonar sempre que precisasse de alguma coisa. Sugeri o oposto, de ficarem elas com o meu numero, e assim foi.
A senhora idosa reforçou e apontou para o andar que tinham alugado à 3 dias, pois tinham-se mudado de Almada.
Foi a casa que vi.
Para além de ser uma história triste ... fico especialmente impressionada com o "é que o M permitiria que a filha fosse viver numa casa naquelas condições".
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