Sabes quando acordas e dás os primeiros passos ainda envolta no sonho? que mantens os olhos fechados e sentes na pele a emoção que não experimentaste? que consciente do horário, lavas os dentes a reviver toda a sua sequência? como começou? tiveste um sonho antes que te conduziu a este, como um caminho lógico de desejos e receios?
Sabes quando sentada à espera do autocarro, reparas em todo o movimento à tua volta? o trânsito que circula em ambos os sentidos, as pessoas que caminham atarefadas e vestidas de escuro, a água da chuva que desce a rua e encontra a sarjeta, os autocarros que passam com a lotação esgotada, as janelas embaciadas da respiração dos passageiros cujos pensamentos estão repletos de preocupações..
Sabes quando sentada na secretária, páras por um momento e sem fechares os olhos, imaginas a vida que acontece lá fora através da janela nas tuas costas, e com as tuas mãos paradas sob o teclado reparas nos vários pares de mãos à tua frente que batem em outras teclas, cada par pertencendo a um cérebro que comanda aqueles movimentos, com as suas vidas, passados, experiências, aspirações.. que todos os dias se sentam à tua frente, e todos os dias te devolvem os bons-dias e se despedem com o até-amanhã.
Sabes quando te olhas no espelho, páras de pentear o cabelo, deixas cair o braço devagar, apoias as mãos no balcão, aproximas-te do teu reflexo e procuras-te na irís dos teus olhos.. umas vezes encontras-te... outras continuas a procurar.
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