quinta-feira, 8 de março de 2012

Sobre o dia da mulher

Só porque me irritam solenemente quando as oiço dizer que não percebem o porquê deste dia e que também devia haver o dia do homem e blá blá blá ...
Mas onde é que vocês andam? Debaixo de que pedra é que sairam?

Queremos estudar e estudamos. Queremos tirar um curso, depois uma pós-graduação e tiramos. Resolvemos aprender inglês, espanhol, francês, alemão e mandarim, e aprendemos. Queremos viajar e conhecer o mundo e conhecemos. Queremos tirar carta de condução, o brevet, a carta náutica e o que mais nos lembrarmos e tiramos. Queremos ser independentes, bem informadas e somos. Queremos comprar roupas, sapatos, perfumes e compramos. Queremos mudar o corpo, a cor de cabelo e dos olhos e mudamos. Queremos ser chefes, passar a directoras e mandar em todos na empresa e mandamos. Queremos casar e casamos. Depois ter filhos e temos. Queremos uma casa maior, uma casa na praia e um jeep e temos. Queremos acabar com o casamento que já não nos serve e acabamos.

Não quisemos ter as vidas das nossas avós e não tivemos, mas por detrás das grandes mulheres do século XXI, estão outras grandes mulheres, as nossas mães, avós, bisavós e tetravós, as que não podiam votar, dependentes de maridos e pais, com vontades próprias amordaçadas, mas que nos prepararam o prato da liberdade de opção.

Por isso o Dia da Mulher no mundo ocidental, não nos vale nada, podemos até trata-lo com o desdém do desconhecimento, no auge da nossa ingratidão pelas lutas das gerações passadas. Podemos atirar ao vento só porque nasci mulher!!?? Dia da Mulher são todos! Pois é, mas isso é agora, não o foi em vinte séculos de história da humanidade. Nós já nascemos a poder fazer das nossas vidas e do nosso corpo o que bem entendemos, mas os vinte séculos de mulheres, as tais que nos deram tudo isso, não. É que a nossa geração nem essa luta teve de travar, nós somos a geração sobremesa, a que goza das lutas das anteriores e que ainda se dá ao luxo de desdenhar, que vergonha.

Não é por nós, é por elas que o deveremos sempre assinalar, porque sem elas a nossa vida jamais seria o que é. E pelas que vivem para lá do mundo ocidental, tapadas com véus, amordaçadas de palavras, mutiladas de prazer e inibidas de actos.

E ainda nos falta aprender a ser menos mazinhas umas com as outras, mas chegaremos lá, talvez tenha sido a única coisa que as nossas avós não fizeram por nós, netas ingratas.


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